terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CONTOS E CAUSOS

PEÃO URUTU

―Papai, outro dia ouvi o senhor dizer que já foi “peão urutu”. O que é peão urutu?
― Peão urutu é aquele que trabalha na roça sob o comando de um “gato”, geralmente em condições subumanas. Hoje esse tipo de trabalho é considerado trabalho escravo e sujeito as penalidades da lei, mas, em um passado não muito distante isso acontecia com muita freqüência e ninguém era punido, principalmente nas áreas de avanço da fronteira agrícola rumo ao Oeste brasileiro.
― Conta prá nós como foi essa experiência.
― Bem... É uma longa história, mas, se você e seus amigos estão dispostos a ouvirem...!
Início de 1979, apesar de já formado no Ensino Médio, continuava trabalhando no campo, como bóia-fria, pois não havia oferta de trabalho dentro da minha área de formação, na região.
Numa tarde de sexta-feira, fiquei sabendo de uma caravana que estava se preparando para ir à Mato Grosso do Sul e que partiria na segunda-feira para fazer a colheita de mandioca para uma grande farinheira. Não pensei duas vezes, embarquei no “pau-de-arara” e me mandei, levando na bagagem apenas algumas peças de roupa e um velho cobertor. Viajamos quase dois dias na carroceria de um caminhão sem o menor conforto, até chegarmos ao local do acampamento, que nada mais era que um pequeno casebre a uns quinhentos metros da casa do campeiro que cuidava do gado.
― Tinha cama para dormir?
― Que nada! O jeito foi pegar o facão, ir até a moita de colonião mais próxima e cortar um feixe de capim para forrar o chão. Pronto, estava feito a cama. Descansamos aquela noite e no dia seguinte fomos para o trabalho. Arrumei um companheiro de “eito” e encaramos o serviço.
― Onde vocês almoçavam?
― Ora! No eito.
― E quem fazia a comida?
― A mulher do “gato”, ele a levou como cozinheira.
― Era boa a comida?
― O almoço foi minha primeira decepção. Foi servido para nós uma marmita de aproximadamente 250 gramas (e isso para quem trabalha na roça é nada), tendo no cardápio “tunico e tinoco” e um “corpo seco”...
― Tonico e tinoco, corpo seco! O que é isso?
― Ah! Eu esqueci de dizer. O peão urutu tem um linguajar próprio para se referir à alimentação. O arroz e feijão é chamado de “tunico e tinoco”, a sardinha tem vários apelidos, pode ser “corpo seco”, “pió sem ela”, “pioi de baleia” e “aviso breve”. O peão costuma dizer que quando o “gato” começa a servir só sardinha seca, está dando aviso prévio, mandando o peão ir embora.
Tem ainda: “cabo de reio” (lingüiça). “paletó de maloqueiro” (pele de porco cozida no feijão), “motor de arranque” (mandioca), “boi da terra” (batata), “moura andrade” (charque), “boi ralado” ( carne moída), “coco ralado” (farinha de mandioca) e “relógio de purso” (ovo frito). Esses são os mais comuns, talvez os únicos, por se tratarem de produtos não perecíveis e os únicos disponíveis.

— E depois do serviço, não tinha nada para fazer?

—Nos primeiros dias nada, a não ser contar causos e jogar truco com um baralho já bastante velho e seboso. Confesso que foi nessa época que aprendi alguns truques no carteado e, meu professor foi um tal de “roxo”, peão que fazia parte de nossa equipe. Nunca fiquei sabendo seu verdadeiro nome. Não era importante.
Após uns três dias e depois de conquistar a amizade do campeiro, além do baralho, “roxo” e eu arranjamos uma nova diversão. Toda tarde, quando o campeiro fechava os bezerros na mangueira, brincávamos de tourada e pega do garrote, uma brincadeira bastante arriscada, dada as circunstâncias, principalmente por estarmos num lugar ermo e distante de recursos. Já pensou se um bezerro machuca a gente! Como seria para socorrer o ferido! Bem, graças a Deus isso não aconteceu.
Essa rotina durou vinte e cinco dias, acabado a empreitada fomos fazer as contas. Tinha sobrado apenas dez cruzeiros de lucro e uma lesão na coluna.
― É por isso que o senhor reclama com problema na coluna?
― Com certeza.
― Depois disso vieram embora?
― Que nada! O “gato” já tinha arranjado uma nova empreitada, um pouco mais distante e com menos conforto ainda.
― Como menos! Vocês não tinham conforto nenhum?
― Prá vocês verem! Fomos para outra fazenda onde o acampamento ficava longe da sede uns doze quilômetros em linha reta, não tinha casa para morar nem água para beber, cozinhar ou tomar banho.
― Como fizeram então?
― Bem...! A casa nós fizemos com lonas plásticas, só a cobertura é claro, sem paredes nem portas, sem nada. Para dormir cada um fez uma “tarimba”, que nada mais era que quatro forquilhas fincadas no chão com duas cruzetas e finas varas retiradas do mato e forradas com capim colonião. A tarimba era necessária para prevenir contra “zói pelado”.
― O que é zói pelado?
― É cobra venenosa, peçonhenta. Tinha tanta, que quando ia dormir tinha que levar uma lanterna para a cama, pois caso necessitasse levantar durante a noite, ver bem onde estava pisando, pois caso contrário, era grande as chances de pisar na peçonhenta. Isso era comprovado a cada manhã ao notarmos que debaixo de nossas tarimbas, estava cheio de rastros das danadas.
― E como faziam para cozinhar e tomar banho?
― Trouxeram um tanque velho cheio de água, só Deus sabe a procedência, que servia para beber, cozinhar e tomar banho. Por falar em banho, só podíamos usar uma lata de nove litros. Era necessário economizar. Nosso banheiro era uma moita de capim, usava um caneco para molhar o corpo, ensaboava e depois, com a caneca novamente retirava o excesso de sabão.
― Tinha muitos animais nessa fazenda?
― Se tinha! Pena que o capataz da fazenda proibiu a caça. Não podia entrar nem cachorro nem arma de fogo, e com isso deixamos de enriquecer a nossa dieta. Tinha pacas, cotias, veados, tatus, capivaras... Capivara tinha tanto que ao entardecer a gente podia ver bandos ao redor de uma lagoa que tinha no meio da fazenda, nem medo da gente elas tinham, ficavam bem à vontade.
― E a comida, melhorou?
― Que nada, só fez piorar. O “gato” passou a regular ainda mais a comida, até o dia em que descobrimos que para o sogro e o cunhado que também fazia parte da equipe, ele mandava em toda refeição, um “subterrâneo”. Houve um pé de confusão, todos queriam enquadrar o “gato”, mas enfim, prevaleceu o bom senso e tudo terminou bem.
― “Subterrâneo” é um tipo de alimento?
― Não. É quando se enche a marmita e coloca “mistura” por baixo e por cima do arroz e feijão. Isso é comprar briga como o peão, afinal, está vindo mistura escondida para privilegiar alguém em detrimento dos outros.
― Nessa nova empreitada vocês estavam colhendo mandioca também?
― Não, dessa vez fomos contratados para quebrar milho. O pior serviço que já fiz na vida. Era uma derrubada nova sem descoivarar, com o milho todo coberto por cipós, quase um matagal, era um verdadeiro inferno.
― Pelo menos dessa vez ganhou dinheiro.
― Que nada! Acabei foi por perder os dez cruzeiros ganhos anteriormente. Depois de quarenta e cinco dias nessa vida, meu único patrimônio foi um sapatão, nada mais que isso. Na verdade, quase fiquei devendo para o “gato”.
E depois disso, o que o senhor fez?
Bem, de volta pra casa, já sobre o caminhão, pedi a Deus e, prometi que dali em diante não trabalharia mais de bóia-fria. Retomei meus estudos e segui outros rumos.
É por isso que o papai sempre recomenda: estudar é o caminho mais curto para se vencer na vida, ou pelo menos, torná-la menos penosa.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ÁGUA, NATUREZA E JUVENTUDE

AULA DE CAMPO


ALUNOS: 3º ano CAEN - Colégio Agrícola Estadual do Noroeste.


Tarefa: Em dupla, deixem seus comentários sobre a importância da aula de campo em seus aprendizados e por que essa aula em especial foi importante.
OBS: esses comentários serão usados como um critério de avaliação.
Estou disponibilizando um vídeo como material de apoio sobre nossa aula de campo nas Ilhas do Rio Paraná

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

contos e causos

Mistérios do Paranapanema
Oliveiros (Las Vegas)

Quatro horas da manhã. Os peixes começavam a escassear e já bastante cansados, eu e meu companheiro resolvemos dar um tempo. Subimos o barranco, tomamos uma talagada da “marvada”, acendi um “paieiro”, deitei na rede e ficamos conversando. O amigo por seu turno, sentou-se á mesa rústica feita pelos pescadores. Sobre ela, nada mais que um copo, um litro de cachaça e um litro de refrigerante vazio, com um pouco de areia dentro, servindo de base para uma vela, funcionando na forma de um lampião improvisado, a qual usávamos na pescaria.Conversamos sobre os acontecimentos da noite por uns quinze minutos, quando então Bucho quebrado resolve ir para a barraca tirar um cochilo.
— Você não vai? Perguntou ele.
— Não, vou ficar mais um pouco aqui. Logo vai amanhecer, quero ver o Sol nascer.
— Está bem, até daqui a pouco.
Assim que ele entrou na barraca, um fato impressionante aconteceu, foi coisa de segundos, mas eu vi. Eu estava ali e vi tudo.
Bastante impressionado, mas com uma serenidade que depois até eu fiquei impressionado comigo, gritei.
— Oh Bucho Quebrado! Corre aqui!
— O que foi? Voltou ele rapidamente.
— Onde você deixou o “litrão”?
— Ora, aqui em cima da mesa ué!
— Eu sei, mas em que lugar da mesa?
— Aqui nesse canto. Disse ele apontando o canto esquerdo da mesa.
— Pois é, e onde ele está agora?
— Aqui. Apontou o outro canto. Por que pergunta?
— Foi só para confirmar. Ah! Você me viu levantar da rede?
— Não, você não levantou da rede, eu tenho certeza disso.
— Eu também. Então, como esse litro foi parar aí!?
— Sei lá! Ta acontecendo alguma coisa aqui que eu não saiba?
— Está. Se eu contar o que vi aqui, você promete que não vai contar pra ninguém?
— Prometo, mas por que eu não devo contar?
— Ora! O que aconteceu, contando, ninguém vai acreditar.
— Está bem. Prometo.
— Muito bem, você entrou na barraca, eu continuei deitado na minha rede, fumando e pensando. Foi quando, de repente aconteceu. O litro de cachaça se elevou sobre a mesa, fez um movimento como se tivesse colocando uma dose num copo, apesar de não ter derramado nada, permaneceu no ar por alguns segundos que para mim parecia uma eternidade e depois pousou novamente sobre a mesa, só que dessa vez do outro lado, aí onde está agora. É como se uma pessoa invisível, tivesse pegado o litro e tomado um trago.
— Meu Deus! Exclamou ele. E você não ficou com medo?
— Com medo fiquei. Arrepiei todo, mas fazer o que?
— Sei lá! Eu é que não fico mais aqui. Vou pra dentro do barraco. Você não vai não?
— Vou não, vou ficar aqui e ver se acontece outra vez.
Fiquei lá até amanhecer, tendo como testemunhas as últimas estrelas e aquele maravilhoso e misterioso rio, que continuava sua caminhada a seu objetivo final, mas nada mais aconteceu. No outro dia, retornamos para a cidade e meu companheiro, na empolgação de uma boa pescaria, contou pra quase toda a cidade o que tinha acontecido inclusive o que ele havia prometido não contar.Voltamos muitas vezes no local, mas nunca mais tive uma pescaria tão recheada de mistérios. Mistérios do Paranapanema.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Contos e Causos

A pescaria

Oliveiros

Eram seis horas da tarde, saímos Carlos e eu com destino à barranca do Paranapanema, com a finalidade única de pescar uns bagres que aqui na região chamamos de “ferrudinha”. Peixe de hábitos noturnos e como o nome já diz, possuem aguçadíssimos ferrões e medem no máximo vinte centímetros, mas, apesar desses transtornos é uma pescaria bastante divertida, além do que são peixes bastante saborosos. Devo confessar que essa pescaria foi recheada de imprevistos, mas no momento vou falar apenas da pesca do “pintado”. E que pintado!
Como estava pescando pequenos peixes, naturalmente nossa tralha era leve, composta de apenas uma varinha de bambu, dois metros de linha e anzol pequeno. Mas eis que, no auge da pescaria enrosca em meu pequeno anzol um enorme “pintado”, que provavelmente foi fazer a sua refeição noturna. Ao perceber que era um pintado (sou pirangueiro dos bons, conheço a espécie só pela puxada) e sabendo que eu não conseguiria tirá-lo da água, apenas sustentei a vara até que encostasse no barranco. Gritei então o companheiro.
— Carlos! Corre aqui! Depressa!
— Que foi?
— Fisguei um pintado e é dos bons.
— Como? Com essa vara!?
— Pois é, tá aqui oh! Apontei para o local próximo ao barranco.
— O que fazemos então?
— Corre lá no barraco, chama o Pé inchado e traz a fisga. Acho que é possível fisga-lo.

Dito isto, ele correu até a cabana, acordou Pé inchado que era pescador profissional e voltou correndo com uma rapidez impressionante, apesar do volume abdominal. Bucho quebrado, esse era o apelido dele. Ao chegar, com toda sua experiência Pé inchado foi logo fisgando o animal.
Quando a fisga rasgou sua carne o bicho corcoveou bonito, deu rabanada pra tudo que foi lado, tentando se livrar, mas não teve jeito. Depois de muita luta, o bruto estava finalmente dominado.
Retirado e limpo, foi para as fotos e a balança. Quantos quilos? Adivinhem! Quarenta e sete quilos. Isto mesmo! Quarenta e sete quilos limpos e pego com anzol e linha de pescar lambari. Juro que é verdade! Pergunta pro Pé inchado e pro Bucho quebrado...

sábado, 5 de junho de 2010

PREVENÇÃO ÀS DROGAS

DIGA “SIM ÀS DROGAS”
Por: Oliveiros M.Oliveira

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência é um período da vida que começa aos 12 anos e vai até os 18, onde ocorrem diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais. É nesse período, que começa a morrer a criança que há dentro de nós, e vai surgindo um novo ser com vontades próprias que as vezes colide com algumas instituições básicas como a família a escola e a sociedade de forma geral.
No ímpeto de se firmar como sujeito da sua própria história, na maioria das vezes, por falta de compreensão dos agentes sociais envolvidos nessa formação, o adolescente acaba tomando caminhos obscuros, buscando, no uso de substâncias tóxicas, paliativos para sua tão natural, mais, conturbada existência, dentro de uma estrutura social que cobra muito, mas que não serve de modelo para suas novas conquistas.
É nesse momento confuso de sua vida que você deve dizer “sim às drogas”, a droga da sua família, que apesar de parecer para você nesse momento que ninguém merece família assim, é ela que vai te dar suporte para toda sua existência. Diga sim a droga da tua escola, pois é ela que vai lhe dar um norte, que vai consolidar esse ser social que você é. Diga sim a droga dessa sociedade na qual você está inserido, pois é nela que você viverá os bons e os maus momentos da sua vida.
Portanto meus jovens amigos, apesar das divergências, com tudo e com todos, tão natural nessa idade, e de estarmos vivendo a chamada “sociedade tóxica”, cabe a você, mudar isso. E mudar para melhor. Diga “Não”, a essas substâncias tóxicas, tão prejudiciais que se apresentam como resolução dos seus problemas, mas que na verdade apenas mascaram a realidade. E lembrem-se, “um amigo de verdade jamais te oferecerá droga”.

terça-feira, 13 de abril de 2010

CAEN-Colégio Agrícola do Noroeste
Disciplina: Sociologia
Turma: 2º ano - 2010
Tarefa:
Faça um comentário sobre o Filme "Entre os Muros da Escola", exibido em sala de aula.
OBS: será analisado como critério de avaliação.
Prazo para comentários: de 13 a 28/04/2010
Professor Oliveiros