terça-feira, 15 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Neste oito de março, além do carnaval, expressão máxima da cultura popular brasileira, comemora-se também o dia internacional da mulher e sua evolução no contexto social. Portanto, não poderia deixar essa data em branco, afinal, o que seria do mundo e do nosso carnaval sem as mulheres? Mas, não vou enveredar aqui pelos campos da poesia, isso deixo para os poetas, pretendo apenas chamar atenção para alguns fatos históricos envolvendo as mulheres.
O movimento feminista, com origem no século XVIII na Europa Ocidental com o advento da Revolução Industrial, só foi possível graças ao fenômeno do Iluminismo, base para a ascensão do capitalismo. Cabe observar que lutadoras do movimento feminista como Mary W. Montagu e a Marquesa de Condorcet notadamente faziam parte da alta burguesia, portanto, detentoras do capital. No Brasil, o primeiro nome a se destacar nessa linha de pensamento é Nísia Floresta Augusta, que atuou como educadora, tradutora, poetisa e que viveu boa parte de sua vida na Europa, também pertencente à burguesia brasileira.
Com a expansão do capitalismo e o surgimento do proletariado, nasce outra expressão política, o Socialismo ou os chamados partidos de esquerda que necessitam de colaboradores para aumentar suas fileiras e ao mesmo tempo abre espaço para as reivindicações femininas, como o direito ao voto, e que naturalmente ia de encontro aos anseios dessa nova expressão política.
Hoje se celebra com tanto orgulho as conquistas das mulheres como: independência financeira e o direito de trabalhar fora, liberdade sexual e assim por diante.
Mas que conquistas são essas?
Veja bem, a mulher conquistou o direito de trabalhar mais, ou seja, trabalha fora e ainda trabalha em casa, salvo algumas exceções, o salário que ganha tem que repartir com a empregada, não sobra tempo nem para acompanhar o crescimento dos filhos. A tal liberdade sexual não passa de utopia, pois a própria sociedade assim o determina. Alegam que a introdução de anticoncepcionais foi uma conquista do feminismo. Ora! Isso foi apenas a evolução das ciências médicas e a exigência dos países desenvolvidos, preocupados com o aumento da população mundial.
Outra coisa que podemos observar é o preconceito de classes. No Brasil, por exemplo, Leila Diniz foi um símbolo da liberdade sexual, mas, isso só ocorreu por ela integrar a elite, os jornais e suas colunas sociais flertavam com suas extravagâncias constantemente, se Leila Diniz pertencesse à classes sociais inferiores, seria apenas mais uma “vadia” da Orla Carioca.
Na verdade, a mulher foi apenas um elemento utilizado pelo capitalismo para manipulação das massas na ânsia de auferir cada vez mais lucros aos detentores dos meios de produção, e essas grandes mulheres contribuíram e muito para que isso acontecesse, não sei se de forma consciente, mas contribuíram.
A grande conquista foi do sistema capitalista. Analise comigo: quando as mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho recebiam apenas o equivalente a um terço dos salários destinados aos homens porque os burgueses alegavam que elas tinham quem as sustentasse, ou seja, se o homem ganhasse 100,00 reais ela ganharia em torno de 35,00 reais. Por outro lado, como a demanda por postos de trabalhos aumentou, verificou-se a redução de um terço dos salários oferecidos aos homens, isto é, o homem passou a ganhar em torno de 65 reais. Moral da história: o sistema passou a contar com duas mãos-de-obra pagando apenas um salário 65,00 + 35,00 = 100,00 reais.
Isso nos leva a concluir que essas supostas conquistas são apenas artimanhas do sistema para manter bem lubrificada a máquina do lucro com o aumento do consumo. E, em nome do desenvolvimento da sociedade humana, o que vemos hoje, são mulheres e homens reféns do capital em detrimento da estrutura familiar, o que contribui efetivamente com o aumento da violência e a falta de perspectivas de um futuro melhor.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A COBRA

Já era rotina. Aos domingos pela manhã, saíamos todos para a roça apanhar frutas, principalmente melancia. Fazíamos um bom estoque e retornávamos.
Após o almoço reuníamos com o pessoal do sítio vizinho e todos se encaminhavam para o ribeirão, onde meus irmãos tinham limpado uma grande área e que nós a chamávamos de “nosso banheiro”.
Nossos amigos eram de uma família recém chegada do Ceará, tinham nomes engraçados para nós e um dialeto bem característico. Era composta por vários integrantes, o senhor Chicutó e mais dois que acho, eram irmãos, Goiabeira e Damião, além dos filhos, Adé, Pitanga, Tinho, Val... Do nosso lado, a família era maior ainda, em ordem decrescente tínhamos: Paulo, Dé, Tião, Chico, Silvestre, Elias, Nego e Eu.
Nossa diversão no ribeirão se resumia em três brincadeiras principais: “feda”, termo originário provavelmente do Sul de Minas Gerais, visto que meus pais vieram de lá, mas que há muito se perdeu no tempo e que aqui foi substituído por “barata” ou “pega-pega”; a outra era feita com cascas de melancia e consistia em duas turmas a arremessar pedaços sobre a lâmina d’água a fim de atingir o adversário situado abaixo ou acima do rio numa distância pré-determinada; e a terceira era o “cangapé”, uma espécie de capoeira dentro da água e que necessita de muito treino e habilidade, no qual Damião, Goiabeira, Tião, Chico e Elias eram especialistas.
Essas brincadeiras, devo lembrar, era para os grandes, porque os pequenos ficavam ora numa área rasa que tinha na margem esquerda e que para isso tinham que ser levadas pelos grandes, ou então, ficavam junto a um galho que debruçava sobre o ribeirão na margem direita e que servia de ponto de apoio, e nessa turma estava incluída, de um lado eu e o Nego e do outro, Tinho e Val.
Certo domingo, estávamos todos a divertir quando de repente o Tião percebe a presença de uma enorme cobra no nosso “banheiro”, vindo em minha direção. Ele gritou:
— Cuidado crianças! Olha a cobra!
Meus companheiros já bem maiores que eu, conseguiram sair da água com rapidez, mas eu, não conseguia, enquanto isso, a cobra se aproximava. Então, o Dé ou o Goiabeira, não me recordo ao certo, correu até onde eu estava e agarrando-me pelo braço, arrancou da água até com uma certa violência, livrando-me de ser picado.
A partir desse dia, todas as vezes que íamos para o ribeirão, lá chegando, deparávamos com a tal cobra. Muitas vezes aguardávamos que ela fosse embora, para dar início as nossas brincadeiras, outras vezes, porém, ela insistia em permanecer na área por muito tempo e acabava atrapalhando nossos planos. Isso se prolongou por vários domingos, até que um dia, Damião, cheio de ódio pelo ofídio resolveu:
— Se aquela peçonhenta tiver no nosso banheiro hoje, vou dar um jeito nela.
— E Cuma é que vai sê? Perguntou Goiabeira.
Tu vai ver só. Essa cobra num ta cá mulesta.
Dito e feito, quando todos estavam preparado para mergulhar, lá estava a peçonhenta, tranquilamente a nadar de um lado para o outro, ziguezagueando em nosso “banheiro” e nada de sair.
Damião olhou de um lado para o outro, resmungou algumas palavras que até hoje eu não sei se eram impropérios contra a danada ou alguma oração, só sei que após o término ele pediu:
— Goabera, pegue o fumo que está no bolso de minha calça. Ligero home!
— Que tu vai fazê?
— Vou insiná pr’essa peçonhenta quem manda aqui, si eu, ou ela.
Dizendo isso, Damião arrancou um naco de fumo com os dentes e pôs a mascar, em seguida, deu umas cusparadas dentro do ribeirão sobre a cobra e “tchibumm”, pulou na água e começou uma série de cangapé.
No embalo, os outros foram atrás e o que se viu foi um verdadeiro espetáculo para nossos olhos de criança. Um verdadeiro balé dentro d’água. Era perna que subia e descia, numa sequência e numa sincronia fantástica. Passado alguns minutos, todos exaustos fizeram uma pausa para descansar e apreciar a obra.
Até hoje ainda não sei se foi a oração do Damião, o fumo que ele cuspiu na água, a série de cangapé, ou tudo isso junto que espantou a cobra, o fato, é que ela nunca mais apareceu ali.