quinta-feira, 2 de agosto de 2012

LAGARTOS X POLÍTICOS


Eu poderia fazer uma analogia entre os políticos e qualquer outro animal, mas dessa vez vou sacrificar o lagarto, já que nesse período os dois estão em situações opostas. Enquanto os lagartos estão em suas tocas, os políticos estão à caça.

Os lagartos ou sáurios constituem uma vasta sub-ordem de répteis escamados. Existem mais de 5000 espécies conhecidas atualmente, eles ocorrem em todos os continentes, exceto na Antártida

O lagarto (teiú) Tupinambis merianae é o mais comum no Brasil é um réptil da família Teiidae e está distribuído geograficamente do sul do Amazonas até o norte da Argentina, tendo como habitat: florestas, cerrados e caatingas. É um animal onívoro, alimenta-se de pequenos mamíferos, pássaros e seus ovos, répteis, anfíbios, insetos, vermes e crustáceos. Também não rejeita frutas suculentas, folhas e flores. É conhecido como ladrão de galinheiros, pois ataca as galinhas e chupa seus ovos com extrema avidez.

Durante os dias mais quentes do ano é encontrados facilmente, comendo vorazmente tudo que encontra pela frente para acumular energia. Porém, durante o inverno dificilmente se ve um exemplar, pois ficam escondidos em tocas gastando a energia acumulada no verão.

Os políticos também constitui uma vasta sub-ordem derivada dos seres humanos são lisos e escorregadios. Não foi catalogado ainda as diversas espécies de políticos.

O político (corrupto) Hominídeo corruptus -  antropóide, semelhante ao homem, mas, não é homem. Principal característica que o diferencia do homem: falta de sentimentos, é o mais comum no Brasil, está distribuiído geograficamente por todos os rincões, tendo como habitat: mansões e palácios. Também é onívoro, alimenta-se, de carnes, frutas, verduras, frutos do mar, ignorância da população, mentiras, conchavos, falcatruas e, principalmente, moedas fortes como dólar e euro. È conhecido como ladrão do nosso dinheiro, pois, chupa nossos parcos recursos ganho com tanto trabalho e suor com extrema avidez através da carga tributária.

Durante ano eleitoral não é necessário procurar para encontrar um exemplar, pois são dóceis e vão aos montes à sua procura. Porém, durante os três anos seguintes eles desaparecem misteriosamente, se escondem em suas “tocas”, tornam-se agressivos e voraz. Ao contrário do lagarto, é nesse período que está hibernando que acumula energia, nem que para isso tenha que se sacrificar milhares de sua espécie.

 (Las Vegas)

domingo, 10 de julho de 2011

O BÊBADO NA CASA DE ORAÇÃO

O cachaceiro é uma figura que a gente encontra em qualquer lugar do mundo, não importa o tamanho da cidade, grande ou pequena, lá está ele, nos botecos da vida, nas festas da comunidade, nos velórios e, acreditem, até nas igrejas.
Numa cidade pequena como a minha Diamante do Norte então, essas figuras ficam em maior evidência. Aqui temos pelo menos três pinguços tradicionais, que por uma questão de ética, evidentemente não vou nomeá-los, mas, um caso em especial merece registro.
Contam a boca pequena que certa manhã, em pleno culto dominical em uma das muitas igrejas evangélicas da cidade, o pastor fazia sua pregação, e em determinado momento eleva a voz e diz:
— Irmãããos, vamos orar com fé, pois Cristo virá...
Nisso é interrompido por uma voz na porta da igreja.
— Vem naaada é minnntira...
Grita um bêbado.
Todos viraram em sua direção, surpresos e incrédulos, afinal, quem ousava desmentir aquele homem cheio de sabedoria, orientador espiritual dos mais acreditados da cidade?
O pastor, do alto de sua sabedoria e com toda a calma, vendo que o porteiro estava tomando as providências necessárias para resolver o problema, retomou seus trabalhos como se nada tivesse acontecido.
— Irmãããos..., como eu estava dizendo, vamos orar com fé, pois Cristo virá nos salvar...
— Veeem nada.... quero vê é vim...!
— Interrompeu mais uma vez o bêbado.
O porteiro, coitado, que geralmente não entende nada sobre psicologia etílica, estava lá se desdobrando para convencer, numa boa, o bebum a se retirar, mais que nada, o bêbado continuava lá a interromper os trabalhos.
Aquele lenga lenga continuou por algum tempo, até que o pastor já não agüentado mais ser interrompido e perdendo de vez a calma, dirigiu-se ao porteiro gritando:
— Irmão, liga de uma vez pro delegado e pede pra ele vir aqui e resolver esse problema.
O bêbado deu uma balançada, pra lá e pra cá, olhou pro porteiro, virou para o pastor e os fiéis e sentenciou:
— Agooora eu vou embooora, porque esse aí que estão chamando veeeem... Esse eu tenho cerrrrteza que vem.
Deu meia volta e saiu cambaleando a procura de um boteco.


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quinta-feira, 19 de maio de 2011

EUA X JAPÃO – A HISTÓRIA SE REPETE

No dia seis de agosto de 1945, o General Douglas MacArthur lança sobre Iroshima a primeira bomba atômica, destruindo milhares de civis, entre eles crianças e idosos, deixando uma herança radioativa para muitas gerações, numa clara demonstração de poder dos americanos. Estava inaugurada a era atômica.
Esse ato contra a humanidade e especialmente contra o povo japonês (não sei de nenhum desses agentes que passou pelos tribunais de Nuremberg) seguiu a risca os princípios maquiavélicos, onde ele sugere que o conquistador deve exercer todo seu poder de crueldade de uma só vez, pois o tempo se encarrega de apagar essas crueldades à medida que esse novo dominador vai lhe oferecendo algumas benesses em doses homeopáticas, e, em pouco tempo passam a adorá-lo, fato evidente na população jovem japonesa, com seus novos hábitos e costumes americanizados.
No pós-guerra os Estados Unidos fez vários afagos e ajudou o Japão que ele mesmo destruiu a se recompor, com ajuda financeira e transferência de tecnologias, dentre elas, o uso de energia nuclear, tão necessário para que o país pudesse atingir o status de grande potência mundial nas últimas décadas. Claro, não podemos deixar de destacar o trabalho dos japoneses com sua tradicional competência, disciplina e organização.
Sessenta e cinco anos depois, a história se repete, dessa vez sem nenhum ato de prepotência ou de arrogância militar, mas tendo como epicentro da crise, a radiação nuclear novamente, só que dessa vez provocada pelos estragos causados por uma catástrofe natural no reator nuclear de uma usina construída com a tão respeitada tecnologia americana (General Electric).
A grande diferença desses dois momentos históricos é o comportamento humano. No primeiro, além do abandono comum aos derrotados, os heróis foram os que tiraram a vida de milhares de pessoas num ato desumano e desnecessário e neste momento, os heróis são aqueles que estão colocando em risco suas vidas para salvar milhões de pessoas, contando ainda com a solidariedade de outras nações.
Mesmo com a solidariedade e colaboração técnica de vários autores da comunidade mundial, ainda fica uma pergunta. Quantas vítimas da radiação serão contadas desta vez e o que será feito a partir de agora para que isso não ocorra mais?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

QUE A SANTA NOS PERDOE

Houve uma época de grande estiagem aqui pras nossas bandas, não lembro ao certo em que ano, só sei que foi na década de 1960. As lavouras começavam a sentir a longa estiagem.

Naquela época o agricultor não tinha a quem recorrer para sair dessas situações desesperadoras como a perda da produção, não tinha os chamados programas de governo (Proagro ou similar), o jeito era apelar para as orações, na esperança de que chovesse a tempo de salvar as plantações, e isso, se fazia através de novenas.

Essas novenas eram rezadas em todos os sítios e em todas as casas, onde o santo ou a santa invocada tinha a imagem transportada pelos fiéis da comunidade, em procissões. Neste caso, se não me engano, era Santa Clara.

Em cada casa que se rezava o terço, era costume servir café com bolinhos de chuva e quitutes caseiros de toda ordem, era na verdade, para as crianças, uma verdadeira festa. Estávamos em todas.

Entre os adultos fiéis sempre tem alguma carola metida a besta que implica com tudo e com todos, principalmente com as crianças, se achando a dona da verdade e ungida pela santa. Nessa, não era diferente, tinha a tal de D. Gina, mulher roliça, de meia idade, sempre puxava a procissão, e graças a essas qualidades, ela conseguiu angariar a antipatia do grupo de meninos, e também dos marmanjos, pois implicava com os namoricos furtivos da rapaziada.

Certo dia, o Chico meu irmão teve uma idéia (daquela cabeça sempre saía alguma coisa). Reuniu a turma e explicou:

— Então pessoal! Que tal sacanear essa véia chata?

— Só se for agora. Qual é o plano? Perguntou o Adé.

— É o seguinte: como ela é muito pra frente, amanhã, durante o terço na casa do Bereta, nós saímos escondidos, vamos até a porteira, passamos merda na tranca e voltamos como se nada tivesse acontecido, quando a procissão prosseguir e ela for abrir a porteira, vai ser uma meleca só.

— Ótima idéia, respondeu o Adé, só que temos que passar nas tábuas da porteira também, pra não ter escapatória, principalmente para aqueles moleques que vão na frente e passam entre elas.

— Combinado então. E vocês molecada, bico calado, ninguém pode saber disso, falou se dirigindo a nós crianças.
E assim foi feito. Durante o terço, todos concentrados na reza, um por um foi escapando de fininho e de repente, todos estavam reunidos na porteira, não se sabe como, mas munidos da matéria-prima necessária para conclusão da obra.

Tudo saiu direitinho, dentro do combinado. Aos poucos, foram voltando um a um sorrateiramente para ninguém perceber nada. Enquanto isso, o terço continuava e todos já de volta, ali com a cara mais santa do mundo como se nada tivesse acontecido.

Terminada a reza, foram servido a todos o tradicional cafezinho e a prosa rolou solta, todo mundo contando as novidades, dentro da maior normalidade do mundo. Os rezadores se despediram do dono da casa e a procissão seguiu viagem, nós acompanhamos como normalmente fazíamos, para não levantar suspeitas, entoando cantos e rezas como de costume, pois, apesar das molecagens, éramos fervorosos fiéis.
Quando a procissão chegou à porteira foi aquela confusão. Dona Gina, pra frente como só ela mesma, meteu a mão na meleca e gritou.

— Quem foi o desgraçado do moleque que passou merda na tranca? Filho da outra... daquela outra... e foi desfiando um rosário de impropérios. Enquanto isso, os moleques mais adiantadinhos também foram passar entre as tábuas e se melaram todos.

Aí sim é que a coisa pegou fogo, foi aquele alvoroço, todo mundo xingando todo mundo e querendo saber quem foram os malditos que fizeram tamanha barbaridade, que aquilo era uma afronta a Santa, que eles iriam para o inferno, que ia acontecer isso, aquilo... enfim, todo tipo de pragas e maldições foram lançadas sobre nossas cabeças.

A confusão foi tanta e disseram tantos impropérios que todas as orações feitas antes, devem ter idas por água abaixo. Enquanto isso, nós nos divertíamos vendo a megera ser motivo de chacota de toda a turma, indo embora de cabeça baixa para casa se livrar do forte odor que impregnava até a alma.

A nossa vingança foi terrível. Vingamos as maldades que ela cometia contra nós crianças e ainda livramos o grupo de sua indesejável presença na novena, pois, a partir desse dia, ela nunca mais apareceu nos terços.

terça-feira, 15 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Neste oito de março, além do carnaval, expressão máxima da cultura popular brasileira, comemora-se também o dia internacional da mulher e sua evolução no contexto social. Portanto, não poderia deixar essa data em branco, afinal, o que seria do mundo e do nosso carnaval sem as mulheres? Mas, não vou enveredar aqui pelos campos da poesia, isso deixo para os poetas, pretendo apenas chamar atenção para alguns fatos históricos envolvendo as mulheres.
O movimento feminista, com origem no século XVIII na Europa Ocidental com o advento da Revolução Industrial, só foi possível graças ao fenômeno do Iluminismo, base para a ascensão do capitalismo. Cabe observar que lutadoras do movimento feminista como Mary W. Montagu e a Marquesa de Condorcet notadamente faziam parte da alta burguesia, portanto, detentoras do capital. No Brasil, o primeiro nome a se destacar nessa linha de pensamento é Nísia Floresta Augusta, que atuou como educadora, tradutora, poetisa e que viveu boa parte de sua vida na Europa, também pertencente à burguesia brasileira.
Com a expansão do capitalismo e o surgimento do proletariado, nasce outra expressão política, o Socialismo ou os chamados partidos de esquerda que necessitam de colaboradores para aumentar suas fileiras e ao mesmo tempo abre espaço para as reivindicações femininas, como o direito ao voto, e que naturalmente ia de encontro aos anseios dessa nova expressão política.
Hoje se celebra com tanto orgulho as conquistas das mulheres como: independência financeira e o direito de trabalhar fora, liberdade sexual e assim por diante.
Mas que conquistas são essas?
Veja bem, a mulher conquistou o direito de trabalhar mais, ou seja, trabalha fora e ainda trabalha em casa, salvo algumas exceções, o salário que ganha tem que repartir com a empregada, não sobra tempo nem para acompanhar o crescimento dos filhos. A tal liberdade sexual não passa de utopia, pois a própria sociedade assim o determina. Alegam que a introdução de anticoncepcionais foi uma conquista do feminismo. Ora! Isso foi apenas a evolução das ciências médicas e a exigência dos países desenvolvidos, preocupados com o aumento da população mundial.
Outra coisa que podemos observar é o preconceito de classes. No Brasil, por exemplo, Leila Diniz foi um símbolo da liberdade sexual, mas, isso só ocorreu por ela integrar a elite, os jornais e suas colunas sociais flertavam com suas extravagâncias constantemente, se Leila Diniz pertencesse à classes sociais inferiores, seria apenas mais uma “vadia” da Orla Carioca.
Na verdade, a mulher foi apenas um elemento utilizado pelo capitalismo para manipulação das massas na ânsia de auferir cada vez mais lucros aos detentores dos meios de produção, e essas grandes mulheres contribuíram e muito para que isso acontecesse, não sei se de forma consciente, mas contribuíram.
A grande conquista foi do sistema capitalista. Analise comigo: quando as mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho recebiam apenas o equivalente a um terço dos salários destinados aos homens porque os burgueses alegavam que elas tinham quem as sustentasse, ou seja, se o homem ganhasse 100,00 reais ela ganharia em torno de 35,00 reais. Por outro lado, como a demanda por postos de trabalhos aumentou, verificou-se a redução de um terço dos salários oferecidos aos homens, isto é, o homem passou a ganhar em torno de 65 reais. Moral da história: o sistema passou a contar com duas mãos-de-obra pagando apenas um salário 65,00 + 35,00 = 100,00 reais.
Isso nos leva a concluir que essas supostas conquistas são apenas artimanhas do sistema para manter bem lubrificada a máquina do lucro com o aumento do consumo. E, em nome do desenvolvimento da sociedade humana, o que vemos hoje, são mulheres e homens reféns do capital em detrimento da estrutura familiar, o que contribui efetivamente com o aumento da violência e a falta de perspectivas de um futuro melhor.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A COBRA

Já era rotina. Aos domingos pela manhã, saíamos todos para a roça apanhar frutas, principalmente melancia. Fazíamos um bom estoque e retornávamos.
Após o almoço reuníamos com o pessoal do sítio vizinho e todos se encaminhavam para o ribeirão, onde meus irmãos tinham limpado uma grande área e que nós a chamávamos de “nosso banheiro”.
Nossos amigos eram de uma família recém chegada do Ceará, tinham nomes engraçados para nós e um dialeto bem característico. Era composta por vários integrantes, o senhor Chicutó e mais dois que acho, eram irmãos, Goiabeira e Damião, além dos filhos, Adé, Pitanga, Tinho, Val... Do nosso lado, a família era maior ainda, em ordem decrescente tínhamos: Paulo, Dé, Tião, Chico, Silvestre, Elias, Nego e Eu.
Nossa diversão no ribeirão se resumia em três brincadeiras principais: “feda”, termo originário provavelmente do Sul de Minas Gerais, visto que meus pais vieram de lá, mas que há muito se perdeu no tempo e que aqui foi substituído por “barata” ou “pega-pega”; a outra era feita com cascas de melancia e consistia em duas turmas a arremessar pedaços sobre a lâmina d’água a fim de atingir o adversário situado abaixo ou acima do rio numa distância pré-determinada; e a terceira era o “cangapé”, uma espécie de capoeira dentro da água e que necessita de muito treino e habilidade, no qual Damião, Goiabeira, Tião, Chico e Elias eram especialistas.
Essas brincadeiras, devo lembrar, era para os grandes, porque os pequenos ficavam ora numa área rasa que tinha na margem esquerda e que para isso tinham que ser levadas pelos grandes, ou então, ficavam junto a um galho que debruçava sobre o ribeirão na margem direita e que servia de ponto de apoio, e nessa turma estava incluída, de um lado eu e o Nego e do outro, Tinho e Val.
Certo domingo, estávamos todos a divertir quando de repente o Tião percebe a presença de uma enorme cobra no nosso “banheiro”, vindo em minha direção. Ele gritou:
— Cuidado crianças! Olha a cobra!
Meus companheiros já bem maiores que eu, conseguiram sair da água com rapidez, mas eu, não conseguia, enquanto isso, a cobra se aproximava. Então, o Dé ou o Goiabeira, não me recordo ao certo, correu até onde eu estava e agarrando-me pelo braço, arrancou da água até com uma certa violência, livrando-me de ser picado.
A partir desse dia, todas as vezes que íamos para o ribeirão, lá chegando, deparávamos com a tal cobra. Muitas vezes aguardávamos que ela fosse embora, para dar início as nossas brincadeiras, outras vezes, porém, ela insistia em permanecer na área por muito tempo e acabava atrapalhando nossos planos. Isso se prolongou por vários domingos, até que um dia, Damião, cheio de ódio pelo ofídio resolveu:
— Se aquela peçonhenta tiver no nosso banheiro hoje, vou dar um jeito nela.
— E Cuma é que vai sê? Perguntou Goiabeira.
Tu vai ver só. Essa cobra num ta cá mulesta.
Dito e feito, quando todos estavam preparado para mergulhar, lá estava a peçonhenta, tranquilamente a nadar de um lado para o outro, ziguezagueando em nosso “banheiro” e nada de sair.
Damião olhou de um lado para o outro, resmungou algumas palavras que até hoje eu não sei se eram impropérios contra a danada ou alguma oração, só sei que após o término ele pediu:
— Goabera, pegue o fumo que está no bolso de minha calça. Ligero home!
— Que tu vai fazê?
— Vou insiná pr’essa peçonhenta quem manda aqui, si eu, ou ela.
Dizendo isso, Damião arrancou um naco de fumo com os dentes e pôs a mascar, em seguida, deu umas cusparadas dentro do ribeirão sobre a cobra e “tchibumm”, pulou na água e começou uma série de cangapé.
No embalo, os outros foram atrás e o que se viu foi um verdadeiro espetáculo para nossos olhos de criança. Um verdadeiro balé dentro d’água. Era perna que subia e descia, numa sequência e numa sincronia fantástica. Passado alguns minutos, todos exaustos fizeram uma pausa para descansar e apreciar a obra.
Até hoje ainda não sei se foi a oração do Damião, o fumo que ele cuspiu na água, a série de cangapé, ou tudo isso junto que espantou a cobra, o fato, é que ela nunca mais apareceu ali.